Sofia era na realidade uma mulher muito bela, mas as vezes ela se tornava tão insuportável que Vlado preferia o sorriso pálido de Estela, suas mãos finas de dedos longos a percorrer-lhe a face, a tocar-lhe seus cabelos.
Consigo mesmo ele pensava:
_ Ah como Estela era uma mulher doce, terna, as mãos suaves e leves!
Quando ela tocava sua face ele podia sentir a sinceridade de seus sentimentos, eram puros, tão puros que ele insistia em dizer que não merecia a companhia de Estela, ela merecia ter um homem melhor, que fosse mais digno de toda aquela bondade, que merecesse de verdade aquele amor.
Vlado as vezes se compadecia de sua condição, mas ele nada podia fazer, talvez se fosse um homem de mais atitude, quem sabe até fizesse, mas não, ele permanecia inerte, era um boneco, pelo menos para Sofia ele era um boneco e ela fazia dele o que bem quisesse, assim como fazia com Estela. Não havia nada que eles pudessem fazer para mudar tudo aquilo.
Estela era tão diferente de Sofia que ele as vezes não sabia porque não ficava de vez com ela, ele se perguntava meio tenebroso pois tinha medo de suas próprias respostas, seus próprios gestos as vezes o denunciava.
Sofia por sua vez era uma mulher fria e ao mesmo tempo tão quente, de seu olhar exalava fogo, mas era um fogo diferente, ele jurava que queria afastar-se dela, a maneira como ela o tratava na presença de convidados era o que mais o incomodava, a forma de se impor perante toda a sociedade, pois todos ali naquele lugar a respeitavam por ela ser quem era, filha de um dos homens mais poderosos da região, a mulher que fazia doações a casas de caridade, que doava suas obras de arte para leilão, que socorria crianças abandonadas. Essa era Sofia, uma mulher que ele jurava não querer nunca ter conhecido.
Ele se perguntava sempre que estava sozinho;
_Ah mas como não conhece-la? Eram tão próximos um ao outro.
Sofia fazia questão de comparecer a todas as festas importantes da sociedade, claro ela era sempre uma das principais convidadas, não havia um evento sequer sem que o nome dela fosse citado e ainda assim para comparecer ela impunha suas condições e Vlado quando a acompanhava era apenas um fantoche.
A pobre Estela parecia mais uma dama de companhia.
Vlado se revoltava consigo mesmo e pensava:
- Não, Sofia não existia, uma mulher como ela não deveria ser feliz, não ela não era feliz, ela não podia ter vida própria, ela devia desaparecer de suas vidas.
O ódio que ele sentia quando pensava sobre essas coisas o dominava, era nesses momentos em que corria para Estela, embora quase sempre a encontrasse na janela olhando as flores do jardim que pareciam ser sempre as mesmas, as flores pareciam não se renovar naquela casa, mas bastava ele chegar e Estela o recebia com aquele sorriso largo, pálido e ingenuo.